Dizem que o ano só começa mesmo depois do carnaval e começo de ano é época de fazer as famosas ‘resoluções de ano novo’. Nessa relação, em geral, pelo menos um item costuma estar relacionado a cuidados com a saúde – entre eles, um desejo de muitos brasileiros: parar de fumar.
Segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que, atualmente, cerca de 11% da população adulta do país seja tabagista – número inferior ao registrado em 2006, quando essa parcela representava aproximadamente 16%. Por outro lado, apesar das estatísticas otimistas, muitos ainda encaram o fim do hábito como um grande desafio.
1) Conscientize-se
O primeiro passo para parar de fumar é ter a consciência de que o tabaco é uma substância nociva e deve ser evitada em qualquer momento da vida, seja no início do tabagismo ou quando a dependência já estiver em estágio avançado. Existem no cigarro mais de 4.700 elementos, sendo 60 deles cancerígenos. Quando não causa o câncer, ele pode favorecer o aparecimento de outras 50 doenças, entre elas trombose, infarto agudo do miocárdio, derrame cerebral (AVC), enfisema pulmonar e bronquite crônica (DPOC), tuberculose pulmonar, gastrite, menopausa precoce, impotência sexual e catarata.
Assim que a pessoa para de fumar, já pode sentir benefícios imediatos: sua respiração, seu paladar, seu olfato e sua pele melhoram. Alguns anos após a interrupção, é observada uma diminuição dos riscos associados ao desenvolvimento de algumas doenças: depois de um ano, o risco para infarto é reduzido à metade; em cinco anos, o mesmo acontece com o risco para câncer de boca; após 15 anos, o risco para cânceres de esôfago e de pâncreas se torna igual ao de quem nunca fumou, assim como acontece com o risco para câncer de pulmão após 20 anos sem fumar.
2) Procure tratamento
O segundo passo é reconhecer o tabagismo como uma doença que tem tratamento. A nicotina, presente em derivados do tabaco, causa dependência física, e o tratamento consiste em conhecer o grau dessa dependência e o papel do cigarro na vida do fumante. Quais associações ele faz? Sempre fuma quando toma café e bebida alcoólica, ao entrar no carro e após as refeições? Utiliza o cigarro como uma companhia ou como uma válvula de escape para o estresse e a ansiedade? Apresenta sinais de abstinência à nicotina? A partir daí, começa o trabalho de orientação para a mudança de comportamento e de pensamento em relação ao cigarro. Algumas vezes, é indicado o uso associado de medicamentos – que têm a função de reduzir os sintomas da síndrome de abstinência da nicotina.
Ainda assim, não há uma receita mágica para largar o cigarro. “Algumas pessoas podem parar de forma abrupta, enquanto outras podem optar por uma redução gradual do número de cigarros diários, até alcançar a interrupção. Nesses casos, porém, a recomendação é que esse período não dure mais do que duas semanas”, explica o especialista, complementando que o tratamento com o uso de medicamentos dura, em média, três meses.
3) Peça apoio
A família e os amigos devem entender que o paciente não fuma porque quer, mas porque precisa. Assim, o apoio das pessoas mais próximas é fundamental, de modo a evitar situações de estresse e ansiedade que deixem o fumante em tratamento com ainda mais vontade de fumar. “O mais importante é entender que o cigarro não vai resolver os problemas; muito pelo contrário, só vai criar mais um. No tratamento, procuramos mostrar que é possível viver sem o cigarro. É como um momento de separação: nunca é fácil. Mas é preciso entender a hora de partir. É como um relacionamento que não deu certo”, afirma o médico.
4) Trace um plano de ação
Uma das dicas básicas é: deixe a fissura passar. Em geral, o desejo mais forte de fumar passa em até cinco minutos. “Se o fumante conseguir vencer esse tempo inicial, será um grande passo para alcançar seu objetivo. O ideal é ocupar esse tempo com outras atividades que distraiam a cabeça. Além disso, o uso de medicamentos pode ajudar, pois reduz a intensidade da fissura”, instrui Meirelles.
A bebida alcoólica também deve ser evitada por algum tempo. Pelo menos no início, quando o paciente estiver mais frágil. Isso porque o álcool diminui a capacidade de absorção da nicotina; então, o tabagista sente necessidade de fumar mais.
Outras dicas para vencer a ansiedade e o forte desejo de fumar são: beber bastante água gelada; chupar gelo; comer frutas, barras de cereal e cenouras em fatia, ou mascar cristais de gengibre, balas e chicletes sem açúcar; escovar os dentes imediatamente após as refeições; evitar café; e fazer exercícios de relaxamento e de respiração profunda.
5) Não use outros tipos de fumo
A dependência química é uma doença crônica. Após conseguir parar de fumar, a única forma de manter-se longe dela é não usar produtos que contenham nicotina. Por isso, outras formas de fumo, como cigarrilha, charuto, cachimbo, narguilé, cigarro de tabaco natural e mesmo o cigarro eletrônico, estão terminantemente proibidas. “Tudo o que tem tabaco tem nicotina e pode levar à dependência. A água do narguilé, por exemplo, só absorve 5% da nicotina; o resto é inalado pelo fumante. Em um ambiente fechado, a fumaça gerada por esse tipo de fumo em uma hora equivale à de cem cigarros”, aponta o especialista.
Ricardo Meirelles também alerta que, no caso do cigarro eletrônico, estudos recentes encontraram nicotina até mesmo em cartuchos que diziam não possuir a substância. “A concentração de nicotina presente nem sempre é aquela informada pelos fabricantes. Além disso, a névoa gerada também contém substâncias cancerígenas e outras que irritam o aparelho respiratório”, finaliza.