Administração do dinheiro de aposentadoria de milhares de funcionários de estatais está sob suspeita; má gestão e fraude podem resultar em perdas bilionárias
Responsáveis pela administração da aposentadoria de milhares de funcionários, os fundos de pensão das empresas estatais enfrentam atualmente novas suspeitas de ingerência política e erros na gestão do dinheiro que administram.
Os quatro principais fundos do gênero – Previ, do Banco do Brasil, Petros, da Petrobras, Funcef, da Caixa Econômica, e Postalis, dos Correios -, acumularam, juntos, um déficit de R$ 46 bilhões ao final de 2015, segundo cálculos publicados pelo jornal “O Globo”.
Denúncias envolvendo ingerência política na administração dos fundos de pensão de estatais são antigas. A CPI dos Correios, que investigou o mensalão, convocou dirigentes e apontou interferências na gestão dos fundos de pensão tanto no governo Fernando Henrique quanto no de Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora, os prejuízos fizeram o tema voltar à pauta e motivaram a criação da CPI dos Fundos de Pensão, em funcionamento no Congresso. O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), diz que há “o aparelhamento das instituições, o tráfico de influência e o direcionamento para negócios suspeitos de interesses político partidários”.
Algumas figuras importantes, como o ministro-chefe da Casa Civil, o petista Jaques Wagner, e o presidente da Câmara, o peemedebista Eduardo Cunha, estão entre os nomes apontados como agentes dessa ingerência, algo que eles negam.
Em meio à discussão, o Nexo relembra aqui para que servem os fundos de pensão exatamente e qual a sua importância, não só para quem coloca seu dinheiro ali, mas também para a economia do país.
Como funcionam os fundos de pensão
Os fundos de pensão, estatais ou privados, funcionam da seguinte maneira: o funcionário contribui com uma parcela do salário durante toda a carreira, como em qualquer programa de previdência. A diferença, que torna os fundos mais atrativos, é que a empresa também contribui. Geralmente coloca todo mês uma quantia proporcional à que é descontada do salário do empregado.
A Previc, subordinada ao Ministério da Previdência, é quem fiscaliza a gestão desses recursos, tanto em fundos públicos quanto privados. As campanhas da Previc nos últimos anos são para que os fundos tenham gestores qualificados já que a má administração pode gerar perdas bilionárias e inviabilizar aposentadorias.
Por que esses fundos são importantes
Como o dinheiro dos fundos é investido e nunca fica parado, ele financia empresas, agricultura, construção civil e até o próprio governo. Os fundos de pensão são donos de partes das maiores empresas do país, estão entre os maiores credores da dívida pública, investem nos mais diversos setores da economia nacional.
R$ 692 bilhões: é o patrimônio total dos fundos de pensão no Brasil
O valor administrado pelas entidades de previdência complementar equivale a 12,4% do PIB (tudo que o Brasil produz em um ano). O cálculo é da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar).
O total, medido no terceiro trimestre de 2015, é cerca de cinco vezes maior que o orçamento anual do Ministério da Educação. O dinheiro dos fundos de pensão equivale a seis vezes ao déficit histórico que o governo teve no ano passado.
Só em investimentos diretos em ações são R$ 67 bilhões, cerca de 3,7% do valor de mercado de todas as empresas com ações negociadas na Bovespa. Há ainda mais R$ 81 bilhões em fundos que incluem papéis negociados na bolsa. Mas a preferência é por investimentos de renda fixa.
R$ 99,9 bilhões: é o dinheiro investido em títulos públicos
A escala é uma vantagem do investimento dos fundos de pensão. Como o montante é grande, é possível conseguir rendimentos maiores do que se cada segurado investisse separadamente seu dinheiro. Por esse motivo também, é necessário que gestores profissionais e competentes sejam contratados para administrar o patrimônio dos fundos.
Fonte: www.nexojornal.com.br / Por José Roberto Castro